UMA NOVELA CLÁSSICA
De fato, trata-se da história de Ivan Ilitch, um burocrata da Rússia czarista. Após cultivar durante anos uma vida honesta e decente, em harmonia com os padrões e conveniências da alta sociedade, Ivan é golpeado por uma moléstia fatal, que o debilita e o arrasta para a morte gradualmente. À medida que seu estado piora, ele se isola cada vez mais, passando a questionar seu passado e o sentido da sua própria vida, que sempre lhe pareceu decente e correta. Entretanto, a dúvida sobre a correção, sobre a legitimidade de sua própria existência, passa a dominá-lo, como neste excerto:
"Veio-lhe à mente: podia ser verdade aquilo que lhe parecera antes uma impossibilidade total, isto é, que tivesse vivido a sua existência de maneira diversa da devida. (...)
Quando viu de manhã o criado, depois a mulher, em seguida a filha, o médico, cada um dos movimentos deles, cada uma das suas palavras confirmavam para ele a terrível verdade que se revelara naquela noite. Via neles a si mesmo, tudo aquilo de que vivera, e via claramente que tudo aquilo não era o que devia ser, mas um embuste horrível, descomunal, que ocultava tanto a vida como a morte. A consciência disso aumentou, decuplicou os seus sofrimentos físicos. Ele gemia, revolvia-se e repuxava a roupa, tinha a impressão de que ela o apertava e sufocava. E ele odiava-os por isso".
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