A ILHA DE UTOPUS


         Este livro é quase todo narrado por Rafael Hitlodeu, personagem que fez diversas viagens pelo mundo afora. A narrativa concentra-se num dos países visitados por ele: a ilha da Utopia, fundada por Utopus.
       Com "cinquenta quatro cidades espaçosas e magníficas", a Utopia é um modelo de sociedade comunista. A equidade de suas instituições espelha uma organização social fraterna, onde a própria noção de "propriedade" é irrelevante. Com base no "princípio da posse comum", os cidadãos utopianos partilham até mesmo seus lares. Assim, "trocam de casa todos os dez anos e tiram a sorte da que lhes deve caber na partilha". Nesse país, a distribuição da riqueza é uma das primeiras matérias discutidas no senado, todo ano. 
          Porém, a Utopia tem alguns problemas, como a escravidão (não restrita aos negros) e a censura ao ateísmo. Não se pode esquecer, obviamente, que o autor da obra era um homem do século 16 (como outros, tolerava a escravidão e tinha convicções religiosas profundas). Ainda assim, uma das qualidades da Utopia é a sua tolerância religiosa. Segundo Rafael, uma instituição antiga da ilha "é a que proíbe prejudicar uma pessoa por sua religião". Mesmo os ateus (materialistas) são tolerados, embora não possuam certos direitos: não podem assumir cargos públicos nem sustentar suas opiniões publicamente. 
         Decerto, Morus pretendia, através dessa alegoria, denunciar as mazelas e injustiças da sociedade inglesa da época. Seja como for, sua obra é visionária e está além do seu tempo. Ao descrever uma ilha ideal, Morus faz-nos refletir sobre problemas que ainda nos afligem, neste início do século 21: o uso da máquina pública em favor dos ricos, a corrupção das instituições, a violação dos direitos sociais, a depravação das leis, etc.



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